O drama vivido pela executiva Carol na novela “Insensato Coração”, da TV Globo, expôs a milhões de brasileiros a relação entre endometriose e infertilidade. Mas a personagem, que tem a doença, conseguiu engravidar mesmo depois de alertada de que isso só seria possível de forma assistida. É importante mesmo saber que, embora exista essa conexão entre a enfermidade e a esterilidade, ela não é absoluta. Por isso, deve-se realizar exames específicos ao surgirem sintomas de ambos os casos, a fim de acelerar tratamentos.
“Encontramos mais endometriose em pacientes inférteis e mais infertilidade em pacientes com endometriose. Entretanto, essa relação não é absoluta, podendo haver também outras causas envolvidas”, alerta o ginecologista e obstetra Rui Ferriani, professor titular de Ginecologia da Universidade de São Paulo (USP) – Campus de Ribeirão Preto e chefe do setor de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas (HC) de Ribeirão Preto.
Entre esses fatores que devem ser observados, o Dr. Ferriani cita, no caso da endometriose mais avançada, comprometimento das trompas e de componentes peritoniais, assim como do próprio ovário. Já em endometrioses leves, o especialista afirma que, em geral, não há distorções da cavidade pélvica, embora vários estudos apontem que na região do peritônio isso pode ser desfavorável, com maior produção de substâncias prejudiciais aos gametas, células usadas para a reprodução sexual.“De qualquer forma, a presença de endometriose é um sinal de alerta para um eventual comprometimento da fertilidade futura, mas não significa necessariamente que a paciente seja infértil. Dizemos que a infertilidade está presente apenas quando houve exposição à concepção sem sucesso”, acrescenta o ginecologista e obstetra.Ginecopatia, isto é, doença exclusiva do sexo feminino, a endometriose se caracteriza pela migração do endométrio (mucosa que reveste o útero) para locais fora do útero por meio da corrente sanguínea, e apresenta como sintoma mais conhecido cólicas acompanhadas de dores muito fortes e progressivas na região da bacia, diferentes dasmenstruais regulares.O Dr. Ferriani explica que é difícil estimar o percentual das mulheres com endometriose e que perderam a fertilidade no período reprodutivo, porque podem existir casos da doença não diagnosticados. Mas afirma que “cerca de 6% a 10% da população feminina global é portadora de endometriose, e 50% das pacientes com infertilidade e dor pélvica possuem a doença”.Diagnóstico precoceAinda de acordo com o especialista, de 25% a 50% das mulheres inférteis têm endometriose e 30% a 50% das mulheres com a doença têm infertilidade. E a possível relação entre esses fatores não fixa tempo para se estabelecer, dependendo muito mais da gravidade da endometriose. Há muitos casos da enfermidade que demoram para ser diagnosticados, até porque a laparoscopia, exame mais preciso e indicado para isso, é invasivo e nem sempre feito pelas pacientes.Mas após o surgimento da endometriose a gravidez é normal, e, inclusive, benéfica ao auxiliar no controle da doença, sendo a gestação espontânea ou não – quando obtida, em geral, via reprodução assistida. “Mulheres que engravidam demoram muito mais tempo em ter recidivas da endometriose. Se a grávida tiver a enfermidade, tampouco aumentam as chances de o bebê nascer prematuramente ou de apresentar outras complicações”, avalia o Dr. Rui Ferriani.
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